Por que um Blog Pessoal?

ou Manifesto Emergente


Você pode se perguntar o por quê de eu iniciar um blog pessoal em 2025, sendo que essa é uma mídia morta. Bem, digamos que eu não sou o fã número um de como as redes sociais funcionam e se organizam hoje. Cansei de ver bonecos de cera aparecendo na minha tela e criando a impressão de que todos são perfeitos e intocáveis, nos fazendo contar likes, comprar esse ou aquele produto, usar a calça da moda, ver o filme do momento ou arrastar pra cima pra conferir a nova base da blogueira que só pisa na rua pra entrar em um carrão.

Não, essa não é a Internet em que eu quero estar.

Você lembra da época dos blogs? Quando cada um tinha seu próprio espaço na Internet? Época do finado Blogspot onde colocávamos nossas músicas favoritas pra tocar no computador de todo e qualquer um que por ventura entrasse em nosso canto?

Espero que sim, pois eu não.

Eu nasci em 2000, e a única fase que peguei dos blogs foi seu declínio.  Vi a chegada do Orkut, com suas comunidades divertidas, os jogos com amigos, e o scrapbook, e as mensagens diretas. Depois vi o chegar o Facebook com seus eventos locais, lembretes de aniversários, e os grupos, e os posts de ódio, e as campanhas de desinformação, e os álbuns de fotos dos meus amigos e os anúncios de começo de namoro. E depois veio o Instagram com… bom, com todo esse modelo idólatra de “influenciadores”.

O que proponho aqui não depende de visibilidade. Nem de usuários ativos, leitores mensais, número de seguidores, taxas de conversão, fluxos de caixa, contentamento de acionistas, fatias de mercado ou quaisquer métricas abstratas e engrenagistas do tipo.

Isso, o que quer que seja isso, depende apenas de mim, o autor. E talvez dependa de você, leitor, enquanto participante de coração aberto à proposta que faço, de passar por aqui de vez em quando pra ver se alguma baboseira nova foi passada de minha cabeça pra essa página digital. E talvez dependa também de sua iniciativa de tomar decisão parecida – ao seu jeito – de cultivar um ambiente seu: saudável, distante os algoritmos e pertinho do coração daqueles que se lembrarem de você e se interessarem genuinamente pelo que você cria, pelo que você é.

Acredito que a diferença entre o leitor ser passivo – recebendo na boquinha o seu “conteúdo” – e ativo – indo atrás daquilo que alguém faz – é fundamental para a sociedade delirante e solitária em que vivemos hoje.

Acredito que devemos deixar de ser perfis publicantes, consumidores passivos e “seguidores”, para voltarmos a ser pessoas criadoras e consumidores ativos, buscando saber dos nossos.

Você, o leitor agora ativo, pode estar achando presunçoso o que escrevo. E você pode estar certo. Talvez seja mesmo. Talvez seja arrogância pensar que em pleno 2025 alguém vai parar de scrollar um feed de vídeos chamativos para abrir um site e ler o que escrevo. Talvez eu só queira uma saída de um mundo sistemático onde eu pareço não funcionar direito.

Pode ser que seja problema só meu.
Talvez seja só eu que demore para responder as mensagens das pessoas mais próximas de mim por estar rolando uma página infinita de postagens 90% das vezes irrelevantes que me esgotam mental e emocionalmente sem eu querer e nem ao menos perceber. Talvez seja só eu que me esqueça de checar os meus amigos pra saber como andam suas vidas, separadas da minha por alguns ou muitos quilômetros, por ter visto uma foto deles de três dias atrás e de certa forma involuntária ter me contentado com isso. Ou talvez, em algum nível, aconteça o mesmo com você. Quer perceba, quer não.

Talvez você sinta que está mantendo contato com seu amigo por ter encaminhado para ele um vídeo de um cara falando sobre o Romário. Talvez você sinta que está a par da vida de seus amigos porque julga que responder aquele storie, curtir aquela foto deles com a família, o cachorro, a esposa, ou o raio que seja, cria uma conexão entre vocês. Como se seu papel de amigo estivesse feito.

Por conta de dois cliques que você dá na tela que te mostrou aquela foto – sabendo que você interagiria pra depois, tendo sua atenção, te mostrar aquele anúncio do tênis que você ficou com vontade de comprar depois de uma influencer postar um “outfit check” no espelho retrovisor de um carro que custa uns 15 anos do seu salário – você se sente perto, se sente conectado.

Mas talvez esse sentir não passe da pele. Talvez esse sentir fique na superfície e seja lavado no primeiro toque de um meme, de um político com o rosto inflado, de uma página de fofoca ou de uma briga de subcelebridades acerca de uma pequena causa hipotética.

Talvez você – quer saiba, quer não – precise de um momento, um espaço, um fôlego para processar e sentir o que acabou de ver.

Talvez para que a Internet realmente nos conecte uns com os outros, precisemos de mais esforço. Eu sei, você não quer ter mais esforço. Nem comprometimento. Sai pra lá ter que abrir o navegador e digitar o endereço de um site para ter que LER o que alguém escreveu. Eu sei disso. Eu sei disso porque eu também sinto isso.

Nos acomodamos com um ou dois aplicativos que agrupam tudo.

O gol do seu time do coração, a foto do casamento da sua tia, a gossip da sua influenciadora predileta, o anúncio de uma loja de vestidos. A biscoitada da sua amiga recém solteira, o post enlutado do seu amigo que perdeu o pai, o vídeo de um indiano pilotando uma moto deitado, o clipe novo de um artista, o show que seu primo foi ontem, a música que sua ficante está viciada, o anúncio de uma oportunidade de investimento imperdível. O vídeo de uma briga de trânsito em outro estado, a foto da família do amigo que você tem saudade, a formatura de um conhecido, outro anúncio agora de uma outra loja de vestidos. Um lugar lindo pra fazer uma viagem em grupo, uma receita fit fácil e rápida pro dia a dia, seu amigo mostrando como estava o pôr do sol da janela dele, um anúncio de um celular recém lançado. O ciclo continua infinitamente, mas com sorte você já entendeu meu ponto.

TUDO EM UM SÓ LUGAR, parece bom né?

Mas você acha que é?

Pensando, genuinamente pensando, na sua experiência mais íntima. Você acha que é?

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